Uma semana para a COP30: Os temas que devem dominar o evento sobre o clima

Falta uma semana para a COP30, a conferência do clima das Nações Unidas que será realizada em Belém (PA) entre os dias 10 e 21 de novembro. Pela primeira vez, a Amazônia recebe o evento, que deve reunir líderes e negociadores de mais de 160 países em torno de um objetivo ambicioso: transformar promessas em ações concretas para conter a crise climática.

A COP de 2025 acontece num momento decisivo para o planeta. 2024 foi o ano mais quente da história, com temperatura média 1,6 °C acima dos níveis pré-industriais.

O Brasil quer fazer da COP30 a “COP da implementação”

Depois de sucessivas conferências marcadas por impasses e acordos tímidos, o Brasil quer que Belém seja a “COP da implementação” – uma virada prática na agenda climática global, com foco em financiamento, transição energética e justiça social.

Pré-COP: um ‘termômetro’ das negociações

A pré-COP, realizada em outubro em Brasília, reuniu 67 delegações e serviu como ensaio geral para a conferência. O encontro teve o objetivo de alinhar posições e construir “pré-consensos” sobre temas centrais, como financiamento climático, transição energética e adaptação a eventos extremos

Objetivos da Pré-COP foram alinhar posições e construir “pré-consensos” sobre temas centrais, como financiamento climático, transição energética e adaptação a eventos extremos (Imagem: 418 House/Shutterstock)

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que as conversas ajudaram a identificar pontos de convergência e possíveis impasses antes da chegada a Belém. Para o governo brasileiro, o evento foi também uma oportunidade de reforçar sua imagem de mediador e liderança regional na agenda climática.

Nas falas oficiais:

  • O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) defendeu o multilateralismo e a conexão entre a pauta ambiental e a vida das pessoas;
  • A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, cobrou mais recursos internacionais para a conservação florestal, estimando em US$ 282 bilhões por ano a necessidade global de financiamento;
  • O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que remuneraria países por manter e recuperar áreas de floresta;
  • A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destacou a maior presença indígena da história das COPs, com mais de três mil representantes. E lembrou que os povos originários “não são só vítimas da crise climática, mas parte das respostas”.

Financiamento e confiança

O financiamento climático será o tema mais sensível da conferência. Depois do impasse na COP29, que terminou com a promessa tímida de US$ 300 bilhões por ano a partir de 2035, os países em desenvolvimento querem elevar esse valor para US$ 1,3 trilhão anual

A diferença expõe um abismo entre ricos e pobres. De um lado, as nações mais afetadas pela crise climática alegam não ter recursos para se adaptar. De outro, as potências, responsáveis pela maior parte das emissões históricas, resistem em ampliar suas contribuições. 

Paisagem de poluição na qual chaminés industriais expelem muita fumaça
As potências responsáveis pela maior parte das emissões históricas resistem em ampliar suas contribuições ao combate às mudanças climáticas (Imagem: Ralf Vetterle/Pixabay)

A cobrança agora é por justiça climática – o princípio de que quem mais poluiu deve arcar com os custos da transição.

Nesse cenário, o Brasil tenta equilibrar papéis. Anfitrião do evento e negociador ativo, o país quer liderar um esforço global por financiamento justo e implementação efetiva de políticas climáticas

O governo aposta em projetos como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre e na criação de mecanismos de crédito de carbono que possam atrair investimentos internacionais. 

A missão é dupla: recuperar a confiança nas COPs e mostrar que é possível alinhar proteção ambiental, crescimento econômico e inclusão social.

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Direitos humanos, finanças e justiça climática

A COP30 também deve ser um marco político e simbólico. Em julho, a Corte Internacional de Justiça reconheceu que combater as mudanças climáticas faz parte das obrigações de direitos humanos dos Estados. 

A decisão reforça o direito a um meio ambiente limpo e saudável como condição básica para o exercício de todos os outros direitos. Isso amplia as responsabilidades de governos e empresas, que passam a ser pressionados a agir de forma mais transparente e responsável diante da crise climática.

Lula discursa na onu
Em seu discurso recente na ONU, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que a COP30 vai ser “a COP da verdade” (Imagem: Reprodução/ONU)

A ONU defende que essa mudança deve vir acompanhada de uma transformação no setor financeiro. Bancos e seguradoras são chamados a adotar políticas de finança sustentável, que unam crescimento econômico, redução de emissões e proteção social. 

Instituições como o Triodos Bank, no Reino Unido, e o BNP Paribas, na França, já testam modelos que conectam crédito e sustentabilidade – seja financiando projetos de energia solar comunitária ou ajudando famílias a tornar suas casas mais eficientes. 

Essa tendência deve ganhar destaque em Belém sob o conceito de “Transição Justa”, que busca equilibrar a descarbonização com geração de empregos e melhoria da qualidade de vida.

Enquanto isso, movimentos sociais e organizações civis se mobilizam em torno da Cúpula dos Povos, evento paralelo que acontecerá também em Belém. 

Mais de mil grupos de todo o mundo devem participar, defendendo uma transição energética com participação popular e justiça climática

A mensagem central é: “sem povo, não há clima”. Para esses movimentos, enfrentar a crise ambiental passa por fortalecer a democracia e garantir que os recursos cheguem às comunidades que protegem a floresta e a vida.

(Essa matéria também usou informações do episódio sobre a COP30 do podcast Durma Com Essa, do Nexo Jornal, que foi ao ar em 15 de outubro de 2025.)

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